RJ estima impulso de R$ 24 bi com universalização do saneamento até 2033
Esgoto jorra nas águas da Baía de Guanabara Marcos Serra Lima/G1 Em meio à promessa de se tornar um epicentro da economia azul, onde a universalização do s...

Esgoto jorra nas águas da Baía de Guanabara Marcos Serra Lima/G1 Em meio à promessa de se tornar um epicentro da economia azul, onde a universalização do saneamento básico até 2033 é vista como a chave para destravar um potencial econômico de cerca de R$ 24 bilhões anuais em novas atividades, o Rio de Janeiro enfrenta uma corrida contra o tempo. De um lado está a ambição por um futuro sustentável, de outro as mudanças climáticas extremas, que impõe desafios urgentes. Durante a 10ª edição do seminário Cidades Verdes, a subsecretária de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro, Ana Asti, ressaltou que, diferente de programas passados que se focavam em despoluir a água contaminada da Baía de Guanabara, a estratégia atual visa impedir que o esgoto chegue aos corpos hídricos, conectando as casas ao sistema de esgotamento. Com a meta de tratar 90% do esgoto, o estado espera recuperar a balneabilidade das praias e impulsionar o surgimento de novos negócios em setores como turismo, transporte aquaviário, esportes náuticos, bioeconomia e energias renováveis. Seminário Cidades Verdes acontece na sede da Firjan, no Centro do Rio Janaína Carvalho / g1 Universalização do saneamento básico Um estudo feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) encomendado pelo governo do RJ indica que essa universalização do saneamento básico pode gerar anualmente R$ 24 bilhões em novas atividades no estado. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça Mais do que um ganho econômico, a ampliação da rede de esgoto tem impacto direto na recuperação ambiental. A universalização do saneamento até 2033 será decisiva não só para transformar o estado em referência da economia azul, mas também para viabilizar a tão esperada despoluição da Baía de Guanabara. Segundo Asti, os antigos programas fracassaram porque focavam apenas em limpar a água já contaminada. “A mudança radical agora é conectar as casas ao sistema de esgotamento, impedindo que o esgoto chegue aos corpos hídricos”, afirmou. Com 90% do esgoto tratado, Asti prevê a recuperação da balneabilidade e a expansão do turismo, desde que haja articulação entre governo, iniciativa privada e sociedade para garantir um crescimento sustentável. “Onde não tem saneamento, não tem desenvolvimento, nem econômico, nem desenvolvimento sustentável. O saneamento é a base de todo o desenvolvimento de uma cidade azul. Sem saneamento você não consegue construir isso, pois vai poluição e não vai desenvolver o turismo a bioeconomia, o esporte e lazer, nem o transporte aquaviário”, destacou Ana. ‘Urgência climática’ No entanto, a frequência e intensidade crescentes de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e chuvas intensas, pressionam por uma mudança em infraestrutura urbana urgente, segundo a professora Andrea Santos, da Coppe/UFRJ. “Estamos vivenciando cada vez mais eventos climáticos extremos faz cada vez mais eventos que são intensos frequentes e estão acontecendo em uma velocidade que a gente até previa final do século, 2050. Mas hoje a gente já se depara com um evento extremo atrás do outro”. A professora citou o conceito de "cidades-esponja", implementado na China, que utiliza áreas verdes e espaços de drenagem natural para absorver a água da chuva e reduzir enchentes. A pesquisadora sublinhou que, embora o conhecimento e a tecnologia existam, o desafio reside na vontade política e na eficiência dos investimentos, promovendo um transporte público sustentável e a intermodalidade. “A gente precisa ter as ações e planos de mobilidade urbana pensando em um transporte de baixo carbono, numa infraestrutura mais adaptada”, garantiu. Saneamento em favelas Apesar dos avanços tecnológicos e metas ambiciosas, o presidente do Comitê de Sustentabilidade da Cedae, Alan Borges, alertou para o déficit histórico de saneamento básico nas favelas da região metropolitana, onde 26% das moradias ainda não possuem módulo sanitário completo. “Não adianta tentar ligar (na rede) casa que não tem banheiro. Porque não vai ligar na rede. Nós precisamos ligar a favela na rede de esgotamento sanitário, aí, sim, teremos praias mais balneáveis, mas com dignidade da pessoa humana”, alerta Borges, ressaltando que o esgoto é o primeiro passo para cidades mais justas e equilibradas. Esgoto corta grande parte da comunidade e passa na porta da casa diversas famílias no Morro Santa Marta Janaína Carvalho / G1 População carcerária no reflorestamento Além de infraestrutura, o programa “Replantando Vida” da Cedae é a combinação de restauração florestal, produção de mudas da Mata Atlântica - mais de 250 mudas, das quais 50 estão ameaçadas de extinção, são plantadas pela população carcerária do estado. “Essa produção conta com mão de obra de pessoas em situação de privação de liberdade, majoritariamente negras, que estão produzindo floresta para que a gente possa colher água”, explica Allan Borges, presidente do Comitê de Sustentabilidade da Cedae. Segundo ele, o papel de uma empresa pública se estende a induzir políticas integradas, reduzir desigualdades e preparar as cidades para os impactos das mudanças climáticas.